A menina, o rato e o homem

A menina era apaixonada por um rato, mas foi atrás de um homem, acho que era porque seu amor pelo rato era uma ligação quase que abusiva. Para muitos o rato era o cachorro e para outros não tinha nem um nem outro. O rato estava com a moça desde que ela se lembra de estar viva, também por isso, por muito tempo o viu como família, mas hoje é parceiro, um parceiro ciumento e superprotetor.

Depois de muitos anos com o rato, a moça decidiu procurar alguém como ela, alguém de unha e carne, alguém de órgãos desenvolvidos e libido verdadeiro. Então encontrou um homem super problemático e ciumento, como foi seu parceiro durante toda sua vida, a moça buscou exatamente o rato em um outro palhaço. De qualquer forma, a menina era dependente do rato então por mais que amasse o homem, não podia se desprender do rato. Uma vez, a moça deixou de chamar o rato de cachorro e acabou por chamar ele pelo seu nome, Felipe, então o homem que parecia de unha e carne como a moça se transformou em um monstro. O amor que havia entre os dois se tornou competição, uma competição que acabara em fim, em pó, em adeus.

Após implorar por respostas, a moça já sem forças foi até seu quarto, foi até sua maleta, foi até Felipe, que a machucou, a sugou, a matou de dentro para fora, a espremeu como uma pessoa tira o ar de um saco plástico para formar um vácuo. Então quase sem perceber, a moça deixou de ser parasita e virou gente, deixou de ser dependente e virou pessoa, deixou de ser filha e se tornou mãe de suas próprias ideias, a moça se tornou Maria e Maria ainda fraca olhando para o espelho entendeu que depois que o parasita vai embora, mesmo sem lembrar quando ele chegou, ela ainda poderia viver, ela agora tinha unha e carne como o homem e poderia sentir tudo o que ela não pode compreender.

Ao ir atrás do homem, que também te algemou e te fez de prisioneira, ela não o achou. O procurou por toda casa, gritou pela rua e então percebeu que o homem também já foi hospedeiro, o homem também já tinha tido um parasita, o homem realmente já tinha sido um monstro e aqui onde os sentimentos matam ele já não aguentava mais não ser amado como devia, não ter a segurança que queria, não ser perfeito para Maria e assim preferiu a morte do que continuar nessa situação.

No fim, a mulher estava livre, ainda com amarras e armadilhas mentais projetadas pelo rato que já fora embora, mas podia andar e tocar sem algemas físicas.

Do homem a moça guardou os bons momentos e aprendizado, aprendeu a dar o maior amor do mundo para quem estiver disposto a dar o mesmo, também aprendeu a não ser mais prisioneira de ninguém, segurar as rédeas de sua vida e se calar quando acreditar que não é verdadeiro ou não é de unha e carne como deve ser. As vezes procuramos nossos maus exemplos nos outros e acabamos por sermos prisioneiros do mesmo mal mas com nome e cara diferentes, mas quando você acordar do conto de fadas e quando você bocejar alto para vida, você vai perceber que o mundo é muito maior e muito melhor que as monstruosidades que você aprendeu a ser submissa.

Isso foi um sonho

– Autoral :)

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